28/04/2015

Por que decidi aceitar e amar meu corpo do pós parto ?

Nunca tive baixa auto estima. Fui uma adolescente feliz apesar do narigão que sempre chamou mais atenção do que eu gostaria (e assim continua). Durante a minha primeira gravidez, engordei 11kg. Durante a segunda, 13. Tudo dentro do normal, sem alimentos proibidos, dietas malucas e rotinas de exercício puxadas.

Acolhi a gravidez como um presente. Meu corpo era o templo do meu bebê, sagrado. As mudanças foram muitas: seios maiores (e olha que já eram enormes), mamilos bem mais escuros, o corpo todo mais farto, muitas espinhas no rosto e elas, as vilãs número 1 de toda gravida, as estrias. Nunca tive dificuldade em acolher meu corpo de grávida, mas o corpo do pós parto? Esse sim é difícil de acolher.

Primeiro porque ele não é mais o templo que justificava todas aquelas mudanças. Segundo, porque a tempestade hormonal no pós parto é punk. Além das preocupações e dificuldades do puerpério, que não são poucas, vem toda aquela cobrança... de nós mesmas, mães, e das pessoas (sem noção), que te perguntam:

«Tem certeza que não ficou um bebê aí dentro?» 

«Você parece que ainda está gravida de 6 meses!»

«Já está usando cinta?»

«Você vai ter que dar seu jeito de perder essa barriga, viu?!»

«Quando você acha que volta pro antigo manequim?»

Odiei profundamente essas e outras frases que ouvi por aí. Odiei porque elas tiraram o foco do meu bebê por alguns minutos em que ía para o espelho examinar minhas novas curvas de mãe, meu ventre vazio, meu corpo flácido, a acne que cobria meu rosto. Senti saudade do meu corpo pré gravidez. Não me reconhecia. Claro, havia mudado. Para melhor: ser mãe transforma, transcende. Mas a saudade de quem era - principalmente por fora - gerou certa nostalgia.

Como sempre nessas horas de questões existenciais, fui ler e trocar experiências com outras mães. O assunto é meio tabú. Agradeço todos os dias estar em Montréal e não em qualquer cidade do Brasil, onde as mulheres vivem uma pressão fudida de ter o corpo perfeito e onde é dificílimo fugir dela. Destas reflexões surgiram algumas respostas que me ajudaram e ajudam todos os dias a aceitar e amar mais meu novo corpo:

Meu corpo é perfeito porque ele fez aquilo pra que ele foi criado: ele concebeu dois bebês (do quase nada!) e deu a luz, duas vezes, lindamente, de forma natural. Ele criou vidas. Sim, enquanto fazia isso deixou rastros, mas e daí? Aquelas estrias estão alí pra me lembrar do maravilhoso templo que ele foi para os meus bebês enquanto cresciam dentro de mim. Meus seios são perfeitos porque fazem aquilo para que foram criados: alimentaram meu filho por um ano e alimentam minha filha todos os dias.  Por esses motivos, meu corpo merece minha gratidão e minha admiração. Os partos foram momentos incríveis. Vale lembrar que foram nesses momentos que entendi realmente do que meu corpo e do que eu mesma sou capaz. Nossa força, nossa determinação. Esse corpo é meu e ele conta a minha história. As mudanças ocorridas durante a gravidez, são mais capítulos da minha nova vida de mãe. 

Por fim, aceitar e amar o corpo do pós parto tem uma importância ainda maior do que essa de estar bem consigo mesma. Nossos filhos aprendem muito nos observando. Observando como somos, como agimos, como nos sentimos em todas as situações. Como mãe, sou um modelo. Até Principalmente nessa questão de imagem corporal. Enquanto, grávida, tomava banho com o meu filho, ele pode observar as mudanças e aprender que alí estava  sua irmã. Daqui a pouco, quando experimentar uma roupa nova e me olhar no espelho, minha filha vai aprender a se olhar também, a fazer poses... é essencial deixar de se criticar e promover amor próprio. Para o bem deles. Para que se tornem adultos sãos. Para que o Gael adulto respeite, acolha, ame e elogie sua futura esposa grávida. Para que a Eva entenda o valor do seu corpo e as maravilhas que ele saberá criar (vidas). Para que ela respeite e ame esse corpo pelo que ele é, passando por cima do que chamamos hoje padrão de beleza, mas que para mim soa mais como prisão de beleza.

Vamos ser felizes? A formula simples: mais acolhimento, menos julgamento... and Take Back PostPartum!


Corpo pós parto... com um dia de "parida"






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